Wallerstein afirma que cada país ocupa
uma função na ordem produtiva capitalista, existindo assim países do centro
(possuem atividades econômicas mais complexas e com maior potencial
tecnológico, que agregam mais valor ao produto); semiperiferia (possuem um
certo nível de industrialização, mas ainda dependem do capital e da tecnologia
dos Estados do centro); periferia (especializados na produção de bens de baixo
valor agregado e requerentes de intensa mão de obra). A expansão do sistema mundo aumenta as
diferenças entre os países do centro e da periferia, além de contribuir para a
criação de uma hierarquia de poder político e econômico.
Para ele, a busca dos países centrais
por locais onde sua produção seja maximizada é o fator que conduz a história e
a dinâmica deste sistema. As condições desiguais de comércio é uma maneira de
perpetuar a divisão internacional do trabalho que reproduz a desigualdade.
Essa teoria pode ser aplicada no
contexto atual para explicar essa “periferização” do mundo e diversos
incidentes que ocorrem no sistema internacional hoje em dia. Um caso que pode
ser analisado através da perspectiva desta teoria é o do trabalho escravo
infantil nas plantações de cacau na África.
No documentário “ O lado negro do
chocolate”, o jornalista dinamarquês, Miki Mistrati, conversou com
trabalhadores e traficantes da região de Zégoua Mali e descobriu que os
traficantes transportam de 10 a 15 crianças por vez em ônibus que vão para
Korhogo, na Costa do Marfim (responsável por 42% da produção mundial de cacau),
onde tem um local que as crianças são mantidas e vendidas para fazendeiros
locais.
Uma criança de Burkina Faso pode ser
comprada por 230 euros, o preço inclui transporte e uso ilimitado da criança,
porém, a maioria das crianças nunca é paga. No documentário, o jornalista encontrou
dois meninos do Mali, que trabalhavam como escravos numa plantação de cacau da
Costa do Marfim. Os garotos contam que os traficantes enganam as crianças para
conseguir levá-las para as plantações, e que se eles se recusassem a trabalhar
ou trabalhassem devagar, os traficantes os agrediam.
A rota do cacau descrita no documentário
demonstra claramente a dependência que os países periféricos têm da exportação
de bens primários a preços determinados pelos países do centro e a cadeia de
commodities que a envolve: o cacau colhido e secado ao sol é comprado por
intermediários (1 euro por kilo) que vão vender aos exportadores nacionais; os
grãos são lavados, ensacados e vendidos (2,5 euros por kilo); finalmente, na
bolsas de valores, o cacau é vendido às empresas de chocolate, que vão
transformar os grãos em pó ou manteiga de cacau, do qual será feito o chocolate
pelos fabricantes (1 kilo de cacau dos produtores vira 40 barras de chocolate).
Miki tentou o contato com empresas de
chocolate ( Nestle, Cargill, Mars, ADM, KRAFT, Barry Callebaut ) para saber que
ações elas estão promovendo para combater o problema, no entanto, a única
resposta que obteve foi uma declaração conjunta por porta-voz, da qual destaca
um trecho: “A grande maioria das plantações de cacau não são das empresas que
produzem chocolate ou fornecem o cacau e, portanto, não temos controle direto
sobre o cultivo do cacau e as práticas laborais”. Essa declaração comprova a
falta de responsabilidade do setor.
Embora o filme seja de 2011, pouca coisa
mudou nesses últimos 5 anos, já que as operações realizadas pela Interpol na
região da Costa do Marfim continuam resgatando crianças das plantações de
cacau: uma operação feita pouco antes do início das gravações do documentário
resgatou 65 crianças; em 2014 foram 76; 48 em 2015. Dados que comprovam a falta
de debates significantes no âmbito internacional e a falta de medidas (locais e
internacionais) eficientes para acabar com a exploração infantil no setor.
Portanto, esse é apenas um dos casos que
refletem a dinâmica do Sistema Mundo moderno, que tem por objetivo a acumulação infinita de capital, facilitada
pelos mecanismos (comoditização, controle do trabalho assalariado, cadeia de
commodities, intercâmbio desigual entre centro e periferia, monopolização do
mercado) criados para perpetuar a hierarquia do Sistema Internacional.
Link do documentário: https://www.youtube.com/watch?v=ozSRWm7VcVE
Marina Reis de Oliveira
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