Por
Alinne, Letícia e Vitor.
A indústria de entretenimento
coreana mostra como sua sociedade é machista, seguindo os conceitos da Teoria
Feminista.
Estamos aqui, mais
uma vez, na Coreia do Sul. Dessa vez, vamos falar sobre as diversas formas de
machismo que estão presentes tanto nas músicas como nas novelas lançadas pelos
sul-coreanos e em contrapartida os meios que demostram a presença da mulher
como independente e presente em uma luta por sua visibilidade como tal, como
visto na luta das feministas.
É interessante
destacar que a sociedade patriarcal coreana é machista por si só, trazendo em
seus costumes antigos, atos que diminuem a mulher, e que são agravados ao
momento que são aceitos, pois estão fortemente presentes em suas músicas e
novelas, as quais fazem muito sucesso e possuem um grande público.
Para início de conversa, devo dizer
que a Coreia do Sul é uma grande produtora de entretenimento. Suas novelas, que
são conhecidas como doramas (do coreano, 한국드라마 ou Hanguk Deurama, traduzindo,
drama coreano) dão, à primeira impressão, uma imagem de inocência para quem
está acostumado a ver novelas da Globo que mostram todas as armações sem
qualquer censura. Mas ao analisar profundamente, temos roteiros de formatos similares
(ou até iguais), que nada mais são que divulgadores de doutrinas e irradiadoras
de uma imagem ideal da mulher coreana: quieta, tímida, delicada e fraca, submissa
e “politicamente correta” segundo as leis da sociedade patriarcal, que diz que
o homem é o dono da casa (do português: bela, recatada e do lar).
Um exemplo fácil
disso, vem de uma das novelas que fez sucesso, não só na Coreia do Sul, mas
entre os telespectadores brasileiros: The Heirs. Em minha opinião: péssima. Como disse anteriormente, o enredo é
como todo os outros: o casal se conhece, apaixona-se, sofre para ficar junto, o
cara se faz de difícil, dor, drama, sofrimento, rivais tentam os separar, beijo
que parece forçado após o 10º episódio, dor, sofrimento, armação, um pouco mais
de sofrimento e um final feliz que se desenrola nos últimos minutos do último
episódio, e de acréscimo uma atuação completamente introvertida de Park Shin
Hye, que interpretou muito bem uma personagem principal que aceitou todas as
imposições feitas por seu par romântico, sendo a típica moça idealizada pela
sociedade coreana:
Já seu par romântico, interpretado
por Lee MinHo, foi O cara de sempre:
um ditador de regras, que deixou sua amada, sua mãe e a noiva arranjada
disputarem espaço em sua vida (deixo uma ligação direta com o conflito típico
de sogra e nora, descrito por Morgenthau). Se você acreditar fielmente no
roteiro, ele ainda é um o mocinho,
que tem seus defeitos por ser muito mimado pelos pais ricos, burgueses, a quem
geralmente obedece por ser seu herdeiro.
Mas chega de drama e de falar sobre a patética sociedade alta coreana, que ainda
é mascarada por suas produções, que nada mais são que puras fantasias de seu
atraso ideológico e de suas extremas censuras: ainda há alguma esperança e
críticas sociais em sua ingenuidade, afinal de contas, this is for all the independent ladies.
Em 2015, por exemplo, o grupo
feminino EXID (Exceed In Dreaming, da empresa AB Entertainment), conhecido por
seus conceitos sensuais e pelo sucesso gerado por um vídeo sensual gravado por fã,
resolveu lançar seu music vídeo criticando a censura que havia sofrido no ano
anterior.
Com o lançamento de seu single, Ah
Yeah, elas colocaram em pauta uma discussão comum entre os ouvintes: a censura
e a sensualização da imagem feminina. “Você finge ser
inocente, tropeçando nas palavras. Seus hábitos ruins estão aparecendo”. O grupo ainda viria a lançar dois vídeos que
mostram que a Coreia do Sul não só tem problemas com censura, mas com a
prostituição que acontece de forma exacerbada e que movimenta altos números ($) no país, mesmo sendo proibida. Com HOT PINK e L.I.E., o grupo mostrou de um jeito bem sutil que é possível ser sensual
e de modo indireto denunciar o que realmente acontece pelas noites coreanas. No
meio das controvérsias do seu último single, a capa de seu álbum (que você pode ver aqui) parece
confirmar que L.I.E. não é apenas mais uma música sexy sem sentido e com
mudanças repentinas de ritmos: Street possui a imagem de uma rua nela a retratação da porta de um motel,
de cassinos, a palavra gincerely escrito e, ainda, um olho que tudo vê, fundamentando a teoria que elas expões a imagem que a Coreia do Sul quer esconder. A imagem conservadora da sociedade coreana is a L.I.E. e se você não cantar para
seu oppa o quanto você o ama, eles
vão te censurar.
É incrível ver como os
relacionamentos são retratados e como as mulheres parecem aceitar tudo de
negativo que seus namorados dizem. Aceitar que um homem seja monstruoso é
socialmente normal. Homens são monstros
intocáveis, que consideram as mulheres demônios
da sedução, que os fazem perder o controle de seu bom senso. Mas dizer que elas não precisam de homens e que as mulheres podem ter atitude se enquadra
em uma possibilidade totalmente fora dos paradigmas sociais adotados. O correto
e o que faz sucesso é dizer que mesmo que ele a trate mal, ele deve ficar e que mesmo que a faça sentir-se
horrível, mesmo que a faça chorar (TT),
ele deve ser seu amado. A sociedade coreana deve ter representantes de uma geração de mulheres, que digam que
nenhum cara é melhor ou mais legal que elas, até em suas canções, para que não se sintam inferiores e para que
sejam tão intocáveis quanto eles.
Além da autoafirmação do Girl Power,
que iguale a mulher ao patamar elevado dos homens, é preciso que não ocorra
essa aceitação aos vídeos que demonstram qualquer tipo de violência contra a
mulher. Principalmente, vindo daqueles grupos que são muito populares entre
jovens. Aceitar tais imagens é conformá-las, de alguma forma, com agressões.
Não há justificativa alguma para aceitar que mulheres sejam colocadas em um
andar inferior de forma que aceitem tapas na cara, nem que estes sejam seguidos
de flores. Tal violência contra o tal “sexo frágil” é tão comum que é
impossível imaginar que todos os homens que usufruam disso tenham qualquer tipo
de alteração mental. Há racionalidade desde a violência doméstica, até a tática
de guerra que é utilizada para punir mulheres de um país perdedor de uma
disputa.
Ser independente não se trata
apenas de poder dizer “Eu pago meu
aluguel com meu dinheiro, eu compro minha própria comida, eu compro minhas
próprias roupas”. Hoje em dia, trata de uma mulher poder andar na rua sem
ser assediada até 3 vezes em um curto caminho de sua cada até seu local de
trabalho, ou por usar uma roupa curta, ou por apenas estar passando. Quem
aceita tal ato, assiste uma novela coreana e acha muito normal uma jovem que
sofre com todas as violências verbais e físicas que eles retratam. Não é
normal. Assim como a descarada sensualização da imagem feminina que é bem visível
em artistas, impostas até para as que não são maiores de idade. Quem conhece,
sabe: os grupos que mais passam dificuldade financeira, costumam apostar em
roupas curtas e coreografias sensuais, pois tal “produto”, vende. E, sim, é
usado de forma que traga polêmicas e mais visibilidade, pois a mulher que está
sendo colocada à venda não é nada.
Infelizmente, a Coreia parece se
encontrar em um sistema-mundo que financia seus costumes que apoiam o
patriarcado e tais cenas vão continuar sendo vistas enquanto houver pessoas
produzindo e comprando esse produto que vem ganhando visibilidade e subindo nos
valores de exportação. A pergunta é: quem compra cala-se por gostar ou por
parecer tão sutil que não consegue ver?
Os admiradores da Coreia e de sua
cultura, provavelmente, ficarão muito mais felizes quando a imagem feminina
parar de ser tratada como um produto frágil que pode ser vendido
internacionalmente, assim como sua sensualidade. Está na hora de investir na imagem independente que parece ter morrido.
Nota: As referências musicais foram todas linkadas respectivamente com as músicas que considerei interessante relacionar ao texto. A maioria delas gerou alguma discussão a respeito de visibilidade ou por possuir uma letra polêmica e machista. Há tradução para músicas coreanas, tanto em sites de letras, como vídeos legendados em português youtube, mas por questões de direitos autorais, apenas coloquei os oficiais. Existem letras, como da música Monster e TT que precisam de uma atenção para notar tais demonstração de violência contra a mulher, por conta de relacionamentos abusivos. Vale a pena analisar.
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