Por Alinne, Letícia e Vitor.
A Escola Inglesa explica o motivo das
Olimpíadas serem uma desordem na vida social mundial que deu certo.
Criada na década de 1950, a Escola
Inglesa é uma corrente que, em plena bipolarização do mundo, tenta reunir as
mentes brilhantes inglesas da época, para dar ao seu país de origem força aos
valores morais e culturais. Sendo as Olimpíadas um evento que reúne culturas,
valores e política, é possível explicar com um estudo prévio da obra A
Sociedade Anárquica de Hedley Bull, por quais motivos o evento realizado em
2016 foi uma desordem social mundial com base em três princípios citados pelo
autor: vida, verdade e propriedade.
Primeiramente, é interessante ressaltar
que o Brasil foi sede do evento realizado, sendo escolhido como tal em outubro
de 2009 durante a 121ª Sessão do Comitê Olímpico Internacional, em Copenhague,
na Dinamarca e que nesse ano, o presidente regente era Luiz Inácio Lula da
Silva. Em 2009, o país começou o ano tendo reflexos do impacto da crise mundial
e passou a se recuperar no terceiro trimestre do mesmo, vindo a crescer
economicamente no ano seguinte.
Passada a confirmação do evento, ou
melhor dos eventos – referindo, também, a Copa do Mundo FIFA 2014 – seria
necessário, como obrigação, a iniciação dos preparativos do país para que tudo
ocorresse com êxito. Vale lembrar, que antes mesmo da escolha da sede, os candidatos
para receber as Olimpíadas são analisados pelo Comitê Olímpico Internacional e
já possuem a plena noção do orçamento de mais de 5 bilhões de dólares, que vem
em conjunto com outras exigências feitas pelo órgão olímpico, que antes de mais
nada visão o bem-estar de todas as federações e previne um país despreparado de
se envolver em compromissos inalcançáveis. Ou é o que se espera.
O cenário político, econômico e social
brasileiro era diferente em 2009. É fato que o presidente da época não pensaria
que o país estaria passando por um processo de impeachment durante o evento,
muito menos que o Brasil estaria em uma crise econômica e o Rio de Janeiro,
cidade escolhida para a realização das competições, teria grandes problemas em
desenvolver e finalizar as obras para algo que só ocorreria sete anos depois da
escolha. Pouco se pensaria nas hipóteses pessimistas, que só seriam lembradas
pelo governo e população alguns meses antes do início da cerimônia de abertura.

Avaliado como um futuro legado, as
Olimpíadas visam muito além de competições. Um de seus grandes valores é a vida. Logo como uma das principais
características para avaliação da sede, é o que ficará após o encerramento. O
apoio político é necessário e fundamental para o planejamento, visto que são
feitos investimentos em saúde, segurança e até com o meio ambiente. Fazendo uma
relação com a teoria da Escola Inglesa, Hedley Bull afirma, com base nos
pensamentos de Santo Agostinha, que ordem é um conceito relativo, quando é
relacionado com metas. Sendo assim, é possível dizer que no caso das Olimpíadas,
a ordem ocorreria em caso de excelência na preparação e realização do evento.
Para tal, seria necessário a concretização dos três princípios destacados pelo
autor.
Em primeiro lugar, a vida. Já destacado
pelo COI (Comitê Olímpico Internacional), o país sede precisa estar preparado
para receber todas as federações e necessita ter estrutura para preservar e
proteger a vida de atletas e do público. Para isso, deve investir na saúde, segurança,
tecnologia, acomodações, etc. A sede de 2016, infelizmente, fracassou no
primeiro valor. Apesar do orçamento previsto com tantos anos de antecedência e
do valor vindo como acréscimo do órgão, o Brasil não foi capaz de finalizar as
obras previstas para o mês de agosto de 2016, fazendo inclusive que federações
tivessem que se retirar da Vila Olímpica pelo local não possuir estrutura
suficiente para sua estadia. O que prejudicou, ora as federações que
necessitaram se deslocar e desembolsar com um lugar para ficar, ora o Brasil
que falhou em suas obrigações como sede e com sua reputação internacional.
Imaginando que as Olimpíadas são um
evento político, é possível ver que o Brasil ficou em falta com outros Estados
que fizeram questão de ressaltar que além da falta de estrutura nas
acomodações, possui uma grande deficiência em segurança. O “clube dos mais
poderosos” notificou sua população sobre a frequência de assaltos e crimes,
para que estivessem preparados ao pisar em solo brasileiro. Sendo isso seguido
de uma visão preconceituosa para com a população.
Em um primeiro momento, é possível ver
que as Olimpíadas possuem deficiência no primeiro princípio, pois não alcançou
a meta de segurar a vida. Apesar disso, até seu encerramento, não ocorreram
graves incidentes informados pela mídia do país, que apesar de não transmitir
total transparência, não noticiou qualquer tipo de acidente grave. Mesmo assim,
o evento inicia avaliado como uma desordem mundial por não respeitar a vida.
O segundo princípio será ligado ao
primeiro. O princípio da verdade, de que as promessas sejam cumpridas que é
buscado por todas as sociedades. É interessante destacar que o COI se dedica a
encontrar Estados que tenham a preocupação de cumprir as promessas feitas na
candidatura para sediar o evento olímpico, o que não foi bem-sucedido no
Brasil. Em 2009, fora prometido que o país estaria preparado para receber as Olimpíadas em 2016 e os investimentos deveriam ser feitos. Sendo assim, temos
um segundo princípio corrompido.
O terceiro poderia ser avaliado de
diversas maneiras. O princípio da propriedade pode ser visto de uma forma ampla
ou mais reduzida. Pode ser relacionada ao país sede, que foi o responsável pela
desordem até então, pode se encaixar nos países que vem representados por
federações, que chegam ao país sede para conquistar o maior número de medalhas
possível representado seu Estado, em caso de ordem internacional e pode
destacar o indivíduo, ou seja, os atletas que buscam, além do reconhecimento
por meio de seu Estado, as suas conquistas individuais, ou seja, a vitória por
sua dedicação e trabalho de longa duração.
Sendo colocado tanto como representação
do Estado ou do indivíduo – o atleta, sendo uma analogia mais correta em caso
de Ordem Mundial – o terceiro princípio pode ser visto como alcançado, visto
que todos exerceram tal tarefa com êxito. Mesmo dentro de tal cenário, nenhum
evento esportivo teve problemas que os interrompessem ou adiassem a luta por
sua propriedade. E como uma boa sociedade internacional, mesmo em um ambiente
esportivo, os maiores possuem vantagens e são conhecidos como “favoritos”.

Apesar da desordem social causada, o
evento teve uma boa repercussão e criou várias desavenças, pois nem todos
apreciaram o espetáculo começando com a festa de abertura que apresentou de uma
forma sutil a cultura brasileira para quem estava presente. Baseado no conceito
de Ordem Mundial de Bull, o evento foi uma total desordem, salvando apenas a
batalha individual pela propriedade, ou seja, a gratificação pela dedicação dos
que se saíram melhores. Para o Brasil, fica apenas a lembrança e uma
aprendizagem para precaver-se em casos de crise em eventos de tal autenticidade.
Mesmo em um caso de desordem mundial, o evento
fez sucesso e foi visto por todo o mundo. O legado ficará e o espírito Olímpico
está sempre registrado em momentos em que nem a competição e a vontade de
ganhar venceu a empatia e a compaixão com o próximo.