sexta-feira, 26 de agosto de 2016

Resenha crítica da Escola Inglesa por Lizandra Ferreira

A Escola Inglesa surge na década de 50, em meio à Guerra Fria, e adota uma postura totalmente diferente do que se vinha vendo: o meio-termo. Indo de encontro ao "preto no branco", que era o comum - ou você estava do lado dos EUA ou da URSS; ou você era um realista ou um idealista - a escola inglesa explora esse meio-termo, com formas intermediárias e menos radicais e, talvez, tenha sido a única que previu o que aconteceu ao fim da Guerra Fria: a multipolarização.
Misturando o que seria a prática política realista do Estado com aspirações ideias, ou seja, os valores morais que acreditavam serem universais, essa corrente filosófica traz conceitos como ordem internacional, sistema internacional e sociedade internacional, até que esta se torne mundial. Porém, a questão que fica é: a Escola Inglesa estava certa e nós atingimos o nível da sociedade internacional mundial?
De acordo com Bull, a ordem na Política Mundial se mantém sobre 3 pilares (valores que, supostamente, são respeitados universalmente): a vida, a verdade e a propriedade. Entretanto, esses valores não têm o mesmo peso em todas as sociedades do globo. O valor à vida, por exemplo, muito relacionado às religiões de cada nação, difere de um lugar para outro: para civilizações ocidentais, em sua maioria cristãs, a vida humana é o que há de mais "sagrado". Para civilizações orientais que têm maioria não-cristã (budismo, islamismo), a vida tem um outro significado, sendo a terrena só passageira e, assim, o apego à qualquer coisa, mesmo a própria vida, é visto como "errado" (no budismo), enquanto extremistas muçulmanos  usam o discurso que Alá está acima da vida dos infiéis, justificando assim atos terroristas, por exemplo. Isso nos mostra que esses valores morais universais que a Escola Inglesa trouxe não são tão universais assim, pelo menos não de forma igual. Quando um católico brasileiro se muda para o Egito, é como se ele fizesse parte de duas sociedades simultaneamente: aquela que tem em comum com ele seus valores e crenças, e a que ele está inserido no momento, à qual ele tem que se adaptar e respeitar também. Estados ditatoriais e Estados democráticos também não fazem parte da mesma sociedade, pois há diferenças gritantes e inimagináveis entre os modos de vida de um jovem cubano e um jovem inglês, exemplificando. Logo, fica difícil acreditar que nós chegamos no nível da sociedade internacional mundial, visto que há culturas muito diferentes umas das outras para que possam todas elas fazer parte da mesma sociedade. Porém, o sistema internacional de Bull, definido como "a interação de um Estado com outro é tanta que a reação do outro à sua ação passa a ser considerada" claramente é comprovado atualmente, já que Estados com culturas tão diferentes (sociedades diferentes) têm interação econômica e até participam de OIs em comum (como a ONU).
Assim, a Escola Inglesa, apesar de ter se desenvolvido durante a Guerra Fria, foi capaz de prever muitas coisas e, embora a sociedade internacional mundial não tenha sido alcançada, é esperado que um dia as diferentes sociedades internacionais consigam conviver de forma mais harmoniosa.

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