A Teoria Crítica surge após o colapso da
União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, em uma época em que os paradigmas
das Relações Internacionais estão em reconstrução. Foi criada em 1924 na Escola
de Frankfurt com orientação marxista e com críticas ao capitalismo e ao Estado
centralizado e burocratizado da União Soviética pós-revolucionária (em especial
após a ascensão de Stalin). A Escola de Frankfurt consistia em um grupo de
intelectuais que na primeira metade do século passado produzia um pensamento
conhecido como Teoria Crítica. Dentre eles temos Theodor Adorno, Max
Horkheimer, Herbert Marcuse, Jurben Habermas e Walter Benjamim. Eles vão fazer
vários questionamentos como a possibilidade da revolução ser comandada pelas
classes trabalhadoras (visão pessimista quanto a isso, principalmente porque a
superestrutura acaba alienando de tal forma que perde sua emancipação),
ascensão dos fascismos no entre guerras e a indústria cultural.
A teoria crítica das relações
internacionais surge como oposição ao debate neo-realista/neo-liberal. Sua
contribuição gira em torno de uma crítica feroz a concepção realista das RI
como sendo uma política de poder, além disso, questiona a pretensão científica
e o positivismo empregado nas teorias de RI. Para os teóricos críticos, as
teorias tradicionais apresentavam limitações na compreensão e análise das
mudanças presentes na política mundial. Outro aspecto importante é que a teoria
crítica procura incorporar elementos do marxismo como pontos de partida a suas
explicações.
Em seu artigo Social Forces, States and
World Orders: Beyond International Relations Theory, Robert Cox propõe que
"toda teoria é para algo e para alguém”, além de que, todas as teorias
possuem uma perspectiva que é dada através de uma posição social e política em
determinado tempo e espaço, neste sentido, todos os velhos conceitos de uma
teoria devem ser ajustados, rejeitados ou substituídos por novos conceitos. Não
há teoria sem caráter normativo, ao fazer suposições e eleger conceitos a teoria
limita o escopo de análise, ou seja, ela vê somente por uma lente, o que
impossibilita que ela seja neutra. Cox faz uma crítica contundente às teorias
positivas, em especial ao realismo, o qual delimita que os Estados buscam poder
e segurança em um sistema de Estado moldado pelos atores majoritários. Ao
afirmar essas premissas os realistas induzem o comportamento do Estado e
tornam-se teóricos normativos. Ao mesmo tempo, a teoria crítica também é
normativa ao promover a emancipação humana.
Na dimensão explicativa de Cox pode ser
relatada ao tratar as estruturas históricas como um quadro de análises. O autor
propõe que essa análise resulta em uma imagem particular da configuração das
forças em um determinado período, a qual pode ser expressa por três categorias
de forças, as quais agem reciprocamente: ideias (significados intersubjetivos,
imagens coletivas); instituições; e capacidade material (capacidades
tecnológicas e organizacionais, por exemplo, recursos naturais que podem ser
transformados em tecnologia). A relação entre estas três forças são
determinantes para a ascensão de uma ordem alternativa. Esse estudo leva Cox a
definir que a hegemonia não é reduzida somente a dimensão institucional, outros
fatores legitimam a permanência de determinada pax.
Voltando ao caráter normativo, Cox expõe que
o neo-realismo induz os atores a adotarem e entenderem o sistema de estados
através da racionalidade neo-realista (poder/segurança) como guia de ação.
Para Cox, as ideias possuem dois
significados: consistem nos significados intersubjetivos ou noções
compartilhadas da natureza da relação humana e que tende a perpetuar hábitos e
expectativas de comportamento (diplomacia); e as ideias são as imagens
coletivas asseguradas por diferentes grupos de pessoas (justiça).
A teoria crítica de relações internacionais representou um consistente
contraponto ao positivismo das teorias dominantes nesse período, e possibilitou
que abordagens teóricas diferentes pudessem ter suas aspirações, ao menos, colocadas
em debate. Cabe ressaltar as dimensões teóricas colocadas em debate por Cox,
especialmente ao expor que toda teoria possui um caráter normativo, tirando o
rótulo de neutralidade das teorias positivas.
Bárbara Menezes de Almeida
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