terça-feira, 18 de outubro de 2016

Teoria Crítica de Cox

         A Teoria Crítica surge após o colapso da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, em uma época em que os paradigmas das Relações Internacionais estão em reconstrução. Foi criada em 1924 na Escola de Frankfurt com orientação marxista e com críticas ao capitalismo e ao Estado centralizado e burocratizado da União Soviética pós-revolucionária (em especial após a ascensão de Stalin). A Escola de Frankfurt consistia em um grupo de intelectuais que na primeira metade do século passado produzia um pensamento conhecido como Teoria Crítica. Dentre eles temos Theodor Adorno, Max Horkheimer, Herbert Marcuse, Jurben Habermas e Walter Benjamim. Eles vão fazer vários questionamentos como a possibilidade da revolução ser comandada pelas classes trabalhadoras (visão pessimista quanto a isso, principalmente porque a superestrutura acaba alienando de tal forma que perde sua emancipação), ascensão dos fascismos no entre guerras e a indústria cultural.
      A teoria crítica das relações internacionais surge como oposição ao debate neo-realista/neo-liberal. Sua contribuição gira em torno de uma crítica feroz a concepção realista das RI como sendo uma política de poder, além disso, questiona a pretensão científica e o positivismo empregado nas teorias de RI. Para os teóricos críticos, as teorias tradicionais apresentavam limitações na compreensão e análise das mudanças presentes na política mundial. Outro aspecto importante é que a teoria crítica procura incorporar elementos do marxismo como pontos de partida a suas explicações.
         Em seu artigo Social Forces, States and World Orders: Beyond International Relations Theory, Robert Cox propõe que "toda teoria é para algo e para alguém”, além de que, todas as teorias possuem uma perspectiva que é dada através de uma posição social e política em determinado tempo e espaço, neste sentido, todos os velhos conceitos de uma teoria devem ser ajustados, rejeitados ou substituídos por novos conceitos. Não há teoria sem caráter normativo, ao fazer suposições e eleger conceitos a teoria limita o escopo de análise, ou seja, ela vê somente por uma lente, o que impossibilita que ela seja neutra. Cox faz uma crítica contundente às teorias positivas, em especial ao realismo, o qual delimita que os Estados buscam poder e segurança em um sistema de Estado moldado pelos atores majoritários. Ao afirmar essas premissas os realistas induzem o comportamento do Estado e tornam-se teóricos normativos. Ao mesmo tempo, a teoria crítica também é normativa ao promover a emancipação humana.
       Na dimensão explicativa de Cox pode ser relatada ao tratar as estruturas históricas como um quadro de análises. O autor propõe que essa análise resulta em uma imagem particular da configuração das forças em um determinado período, a qual pode ser expressa por três categorias de forças, as quais agem reciprocamente: ideias (significados intersubjetivos, imagens coletivas); instituições; e capacidade material (capacidades tecnológicas e organizacionais, por exemplo, recursos naturais que podem ser transformados em tecnologia). A relação entre estas três forças são determinantes para a ascensão de uma ordem alternativa. Esse estudo leva Cox a definir que a hegemonia não é reduzida somente a dimensão institucional, outros fatores legitimam a permanência de determinada pax.
        Voltando ao caráter normativo, Cox expõe que o neo-realismo induz os atores a adotarem e entenderem o sistema de estados através da racionalidade neo-realista (poder/segurança) como guia de ação.
    Para Cox, as ideias possuem dois significados: consistem nos significados intersubjetivos ou noções compartilhadas da natureza da relação humana e que tende a perpetuar hábitos e expectativas de comportamento (diplomacia); e as ideias são as imagens coletivas asseguradas por diferentes grupos de pessoas (justiça).

          A teoria crítica de relações internacionais representou um consistente contraponto ao positivismo das teorias dominantes nesse período, e possibilitou que abordagens teóricas diferentes pudessem ter suas aspirações, ao menos, colocadas em debate. Cabe ressaltar as dimensões teóricas colocadas em debate por Cox, especialmente ao expor que toda teoria possui um caráter normativo, tirando o rótulo de neutralidade das teorias positivas.



Bárbara Menezes de Almeida

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