A teoria crítica das RIs surgiu num período em que se havia
uma necessidade de buscar perspectivas que ampliassem os temas de análise,
ultrapassando os conceitos de segurança e da política externa.
Essa teoria realiza uma crítica ao realismo (que associa ao
objeto de análise um caráter imutável) e utiliza conceitos marxistas, como o da
alienação e da ideologia, para explicar os desafios da atual sociedade.
Os estudos dos filósofos da Escola de Frankfurt (surgida em
1924 na Universidade de Frankfurt) passaram a ser conhecidos como Teoria
Crítica.
Um desses teóricos é Robert W. Cox, que adaptou o conceito
de escola crítica da Escola de Frankfurt e que passou a definir teoria como uma
convenção social (usada para explicar os fatos de tempo e espaço), não mais
como um modelo absoluto, aplicável universalmente. Para ele existem 2 tipos de
teoria: teoria de solução de problemas (se pretendem neutras e universais) e as
teorias críticas (caráter parcial, foco mais normativo).
Cox acredita que existam 3 tipos de força que podem ser
usadas para perpetuar determinada ordem por um período de tempo, podendo ser
alteradas: capacidades materiais (capacidades produtivas, de destruição, a
tecnologia, etc); ideias (cultura, regras sociais, ideologias); instituições
(influenciam diretamente a ação dos atores). Para ele, é preciso aplicar esses
três tipos de força das estruturas históricas a três níveis de atividade que
caracterizam as relações internacionais e onde ocorrerão as disputas pela
hegemonia. Os três níveis são: as forças sociais (relacionada ao modo de
produção); formas estatais (define o complexo Estado/sociedade civil); ordens
mundiais (configurações de força).
É possível aplicar esse conceito de hegemonia no período
pós-guerra, no qual ocorreu o declínio da hegemonia britânica através,
principalmente, dos processos de libertação nacional. A queda do imperialismo
britânico promove a ascensão de uma nova ordem mundial: a pax americana.
A pax americana se propaga por meio do consenso em torno do
projeto de potência norte-americano, que conseguiu adeptos nos países que não
se associaram à URSS. A influência americana e sua internacionalização se
asseguraram através de uma série de aparatos, dentre eles: a criação de
mecanismos financeiros de dominação (como o FMI, Banco Mundial); surgimento da
ONU e de outras organizações internacionais; a bem-sucedida missão de
exportação da cultura americana (filmes, literatura, moda, etc), entre outros.
Além disso, no contexto da Guerra Fria, os EUA prosseguiram na
sua função de propagar o ideal capitalista e da democracia liberal a outros
lugares do mundo. Este compromisso gerou uma série de intervenções americanas
nos países da América Latina, principalmente entre os anos 1960 e 1980,
marcadas pelo apoio e financiamento a golpes de Estado e ditaduras, como a de
Pinochet, no Chile.
Assim, é possível perceber que a dinâmica das categorias de
força consegue se propagar fora dos limites territoriais de um Estado, sendo
capaz de redefinir a hegemonia e as características estruturais das ordens
mundiais.
Marina Reis de Oliveira
Nenhum comentário:
Postar um comentário