Embora
o marxismo seja tratado atualmente como uma teoria das relações internacionais,
Karl Marx e Friedrich Engels, os idealizadores desta corrente, nunca se
dedicaram a estudar as relações internacionais propriamente ditas. Lênin foi o
teórico que mais se aproximou de aplicar o marxismo nas RIs.
De
qualquer modo, o Marxismo é uma corrente importante pois ainda hoje em dia,
seus conceitos são amplamente difundidos e usados para explicar as relações
entre Estados.
Comecemos
levantando quatro conceitos desta teoria, o de luta de classes, meios de
produção, infraestrutura e superestrutura. A existência dos dois últimos, de
certa forma, propicia alicerce para a existência da luta de classes e a
abordagem marxista dos meios de produção.
Infraestrutura
para Marx são as relações de produção somados aos meios materiais de produção,
sendo assim, a infraestrutura é a base econômica do processo de acumulação
capitalista.
Superestrutura
por sua vez, são os níveis de dominação ideológica que a classe dominante tem
sobre a classe dominada. Esta surge sobre, e a partir da infraestrutura, em
síntese, é o modo como a burguesia domina ideologicamente o proletariado. Por
exemplo, a religião a justiça, política e o próprio conceito de Estado.
Seguindo esta linha de raciocínio, o Estado, segundo Marx, só nasce para
legitimar a burguesia como classe dominante.
Com o
fim do feudalismo, nasce os Estados, e no mesmo tempo, surge a burguesia, logo,
o marxismo aponta para o fato de que o Estado surge com e pelos burgueses. E
deste modo o Estado só existe para organizar a dominação anteriormente citada,
logo, o Estado também é resultado da dominação burguesa.
Assim
entramos no conceito de alienação, ligado ao internacionalismo proletário.
Segundo a teoria marxista, os operários, não tem pátria, os operários do mundo
todo, são abordados como iguais independentemente de nação, isto é, todos os
operários, toda a classe dominada, estão alocados na mesma condição de
alienados, uma vez que até o conceito de Estado, de nação é uma criação
burguesa para que o proletariado alienado, se integre aos conflitos
interestatais burgueses, ao invés de se aliar aos operários de outros Estados
para mudar este paradigma. Mas ao contrário, ele passa a ver o outro operário,
integrante de outra nação, muitas vezes, como um inimigo, firmando ainda mais
sua dominação.
Logo o
Estado se torna mais um elemento ideológico para alienar o trabalhador de sua
real condição de explorado. O mesmo acontece com o conceito de religião,
política e cultura. Apesar de termos explicado apenas a alienação no conceito
“Estado”, todos estes outros pontos seguem esta mesma lógica.
Como esperado de qualquer alienado, vamos aqui questionar
esse conceito de alienação. Como dito acima, os conceitos de nacionalidade,
cultura e outros fatores sociais são criação pura da classe dominante para
dominar a classe cominada, uma criação intencional para essa finalidade, ou
seja, se dá a entender que um grupo em algum momento parou para escolher quais
elementos induzir à ideia social de seus dominados para que sejam alienados com
sucesso e permaneçam assim. E só de escrever isso a ideia já parece absurda,
ignorando qualquer estudo antropológico de formação cultural (que seria também
facilmente rotulado como uma ferramenta da alienação, assim como os teóricos da
conspiração fazem), é um pensamento “fora da caixa” que chega a sair de uma
segunda caixa.
A cultura e elementos sociais, incluindo noção de nacionalidade,
é algo vivo que nasce e morre com as gerações que passam pela Terra, assim como
as línguas que se modificam organicamente com o passar das décadas, assim é a
cultura e a construção social que nos cerca. E se for pra haver uma alienação,
pois não negamos sua existência completamente, ela nada mais que é a famosa
construção social, e os próprios “alienadores” são vítimas de sua própria
alienação, impossível assim de ser somente uma ferramenta de cominação de uma
classe sobre outra. O cérebro humano torna improvável que um grupo dominante
permaneça incutindo ideias falsas sem acreditar nelas para fins de manter sua
dominação, pois como o próprio Marx sendo seguidor de Hegel acredita, a
dialética histórica mantém a roda da história girando e se modificando, então
não há um momento para ser identificado na história da humanidade em que alguém
parou para planejar de maneira consciente como a cultura de um grupo se
manifestaria para benefício de uns e esta se mantém até hoje como se existisse
uma ordem burguesa mundial controlando absolutamente tudo que acontece no
mundo. A humanidade é maior que o grupo que a comanda e a cultura é formada por
todos que vivem, estamos falando de algo maior do que aqueles que em teoria
comandam poderia comandar.
Poderíamos
continuar discorrendo e argumentando sobre a improbabilidade do conceito
marxista de alienação ser real num ponto de vista das RI, mas como já dissemos,
são somente palavras alienadas negando a alienação.
Giovanna Bertolaccini
Rodrigo D'Avila
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