domingo, 18 de setembro de 2016

Uma breve análise acerca do Construtivismo

 A premissa fundamental do construtivismo é a ideia de que o mundo é socialmente construído, e, sendo assim, as relações internacionais seguem pelo mesmo caminho. A teoria construtivista tem muitos autores e muitas divergências entre eles, formando uma série de vertentes, esta análise parte da obra “Teoria social da política internacional” de Alexander Wendt.
   A partir desta obra, Wendt propõe que o poder, os interesses, a anarquia internacional e todos os outros pilares que estruturam as relações internacionais não são construídos apenas nas condições materiais, como antes argumentado por outros autores, como também são construídos a partir de fatores culturais e ideológicos.
   Uma das críticas que Wendt faz a Waltz, autor neorrealista, é exatamente em relação a anarquia internacional. Para Wendt a anarquia não é algo engessado e previamente estruturado como argumentado por Waltz. A anarquia internacional é o que os Estados fazem dela, é resultado da percepção que cada Estado possui em relação a ela. No caso, para um país desenvolvido, com grande poderio e influência no cenário internacional, a anarquia, por não possuir um mediador acima dos Estados, favorece que este permaneça em seu status, mas já no caso dos países em desenvolvimento, que almejam aumentar sua influência, ou aqueles de características imperialistas, a anarquia proporciona a eles a oportunidade de alcançar estes objetivos, também por não possuir um mediador acima dos Estados que os contenha.
   Assim como na análise sobre a anarquia, Wendt e o construtivismo, abordam que os Estados agem por interesse, assim como afirmado pelos realistas e neorrealistas, no entanto, estes interesses são baseados em crenças, isto é, fatores culturais e históricos aos quais acreditam. Sendo assim, as relações entre Estados são baseadas nas concepções culturais que estes Estados e povos possuem, bem como na relação histórica entre estes Estados. Por exemplo, a relação entre Estados Unidos e Rússia, ainda que a guerra fria tenha encontrado seu fim a muitos anos, é, e provavelmente sempre será, cercada pelas concepções culturais, formada por fatores históricos, que um país tem do outro. Assim também aconteceu com as relações entre os nativos americanos e os colonizadores espanhóis ao chegarem a América. As concepções culturais de interesses eram diferentes entre as duas civilizações.
   Por outro lado, Wendt não descarta o fato de que os fatores materiais são importantes na composição destes interesses, e das relações entre os Estados. A distribuição e composição dos fatores materiais, sejam eles poderio militar, condições geográficas, fatores econômicos ou tecnológicos, são igualmente importantes em relação a ideologia de cada estado (ideologia formada pelos fatores culturais, históricos e crenças, como dito anteriormente).
   A partir destas prévias explicações, Wendt chega ao que ele chama de: Os três elementos estruturantes da teoria social. A combinação entre estres três elementos igualmente importantes é o que forma o comportamento dos Estados. São eles, condições materiais, interesses e ideias. Exemplificando novamente, podemos citar o Canadá. Se analisado pela ótica realista, e neorrealista, por ele possuir poderio militar, acesso à tecnologia avançada e grandes recursos econômicos, ele se tornaria potencialmente, um país conflituoso e imperialista. Em contrapartida, o Canadá é um país culturalmente pacífico, o que também é uma verdade em seu comportamento internacional. O que serve de argumento mais uma vez para provar que as ações dos Estados só podem ser analisadas certamente, se levando em conta os três fatores.
   Continuando na análise de Wendt em que o mundo é socialmente construído, ele preocupa-se em especificar como a cultura age no debate entre agente (Estados) e estrutura (o sistema internacional e a anarquia). Segundo o mesmo, a cultura que cada Estado possui, formula a crença dos mesmos e molda o comportamento destes em relação a outros Estados. Como exemplo, podemos citar a Argentina na guerra para a anexação das ilhas Malvinas, que não levou em consideração o poderio militar superior da Inglaterra, mas apenas a crença adquirida culturalmente que aquele território o pertencia.
   A relação entre recursos materiais e como utilizá-lo também é fortemente abordada pelo construtivismo de Waltz. Segundo o mesmo, cada Estado usa seus recursos naturais, escassos ou em abundância, segundo o que aqueles recursos materiais representam para eles. Assim sendo, as questões ideológicas e culturais ficam claras novamente em relação ao poder e interesse.
   Por fim, as crenças em que escolhemos acreditar tornam-se verdades para nós, e com os Estados e suas relações não é diferente. O construtivismo é uma teoria que vem mostrar, que por trás de todos os grandes conceitos que regem as relações internacionais, e que são abordadas por todas as outras teorias como sendo resultado único e exclusivos de recursos materiais, são na verdade baseados em questões ideológicas e culturais.
    Wendt mostra como as verdades absolutas na sociedade internacional são forjadas a partir da cultura dos países, e que cada país e povo possui suas culturas específicas, logo, estas verdades absolutas, de um modo ou de outro não são a representação verdadeira das crenças de todos os países, apesar de servir como uma máxima em que todos eles devem seguir e acreditar.

Giovanna Bertolaccini
Rodrigo D'Avila


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