A premissa fundamental do construtivismo é a
ideia de que o mundo é socialmente construído, e, sendo assim, as relações
internacionais seguem pelo mesmo caminho. A teoria construtivista tem muitos
autores e muitas divergências entre eles, formando uma série de vertentes, esta
análise parte da obra “Teoria social da política internacional” de Alexander
Wendt.
A partir desta obra, Wendt propõe que o
poder, os interesses, a anarquia internacional e todos os outros pilares que
estruturam as relações internacionais não são construídos apenas nas condições
materiais, como antes argumentado por outros autores, como também são
construídos a partir de fatores culturais e ideológicos.
Uma das críticas que Wendt faz a Waltz,
autor neorrealista, é exatamente em relação a anarquia internacional. Para
Wendt a anarquia não é algo engessado e previamente estruturado como
argumentado por Waltz. A anarquia internacional é o que os Estados fazem dela,
é resultado da percepção que cada Estado possui em relação a ela. No caso, para
um país desenvolvido, com grande poderio e influência no cenário internacional,
a anarquia, por não possuir um mediador acima dos Estados, favorece que este
permaneça em seu status, mas já no caso dos países em desenvolvimento, que
almejam aumentar sua influência, ou aqueles de características imperialistas, a
anarquia proporciona a eles a oportunidade de alcançar estes objetivos, também
por não possuir um mediador acima dos Estados que os contenha.
Assim como na análise sobre a anarquia, Wendt
e o construtivismo, abordam que os Estados agem por interesse, assim como
afirmado pelos realistas e neorrealistas, no entanto, estes interesses são
baseados em crenças, isto é, fatores culturais e históricos aos quais
acreditam. Sendo assim, as relações entre Estados são baseadas nas concepções
culturais que estes Estados e povos possuem, bem como na relação histórica
entre estes Estados. Por exemplo, a relação entre Estados Unidos e Rússia,
ainda que a guerra fria tenha encontrado seu fim a muitos anos, é, e
provavelmente sempre será, cercada pelas concepções culturais, formada por
fatores históricos, que um país tem do outro. Assim também aconteceu com as
relações entre os nativos americanos e os colonizadores espanhóis ao chegarem a
América. As concepções culturais de interesses eram diferentes entre as duas
civilizações.
Por outro lado, Wendt não descarta o fato de
que os fatores materiais são importantes na composição destes interesses, e das
relações entre os Estados. A distribuição e composição dos fatores materiais,
sejam eles poderio militar, condições geográficas, fatores econômicos ou
tecnológicos, são igualmente importantes em relação a ideologia de cada estado
(ideologia formada pelos fatores culturais, históricos e crenças, como dito
anteriormente).
A partir destas prévias explicações, Wendt
chega ao que ele chama de: Os três elementos estruturantes da teoria social. A
combinação entre estres três elementos igualmente importantes é o que forma o
comportamento dos Estados. São eles, condições materiais, interesses e ideias.
Exemplificando novamente, podemos citar o Canadá. Se analisado pela ótica
realista, e neorrealista, por ele possuir poderio militar, acesso à tecnologia
avançada e grandes recursos econômicos, ele se tornaria potencialmente, um país
conflituoso e imperialista. Em contrapartida, o Canadá é um país culturalmente
pacífico, o que também é uma verdade em seu comportamento internacional. O que
serve de argumento mais uma vez para provar que as ações dos Estados só podem
ser analisadas certamente, se levando em conta os três fatores.
Continuando na análise de Wendt em que o
mundo é socialmente construído, ele preocupa-se em especificar como a cultura
age no debate entre agente (Estados) e estrutura (o sistema internacional e a
anarquia). Segundo o mesmo, a cultura que cada Estado possui, formula a crença
dos mesmos e molda o comportamento destes em relação a outros Estados. Como
exemplo, podemos citar a Argentina na guerra para a anexação das ilhas
Malvinas, que não levou em consideração o poderio militar superior da
Inglaterra, mas apenas a crença adquirida culturalmente que aquele território o
pertencia.
A relação entre recursos materiais e como
utilizá-lo também é fortemente abordada pelo construtivismo de Waltz. Segundo o
mesmo, cada Estado usa seus recursos naturais, escassos ou em abundância,
segundo o que aqueles recursos materiais representam para eles. Assim sendo, as
questões ideológicas e culturais ficam claras novamente em relação ao poder e
interesse.
Por fim, as crenças em que escolhemos
acreditar tornam-se verdades para nós, e com os Estados e suas relações não é
diferente. O construtivismo é uma teoria que vem mostrar, que por trás de todos
os grandes conceitos que regem as relações internacionais, e que são abordadas
por todas as outras teorias como sendo resultado único e exclusivos de recursos
materiais, são na verdade baseados em questões ideológicas e culturais.
Wendt
mostra como as verdades absolutas na sociedade internacional são forjadas a
partir da cultura dos países, e que cada país e povo possui suas culturas
específicas, logo, estas verdades absolutas, de um modo ou de outro não são a
representação verdadeira das crenças de todos os países, apesar de servir como
uma máxima em que todos eles devem seguir e acreditar.
Giovanna Bertolaccini
Rodrigo D'Avila
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